Aos 15 anos, Mitsurraro Morikawa, morador da vila Entre-Rios, no município de Caroebe (RR), tem uma trajetória inusitada no esporte. De origem japonesa e indígena, o adolescente representa Roraima em uma competição nacional de badminton – um feito surpreendente para quem, há pouco mais de um ano, sequer conhecia as regras da modalidade. Estreando nos Jogos da Juventude CAIXA Brasília 2025, o jovem chegou à Brasília sem conseguir treinar e chegou às quartas de final no individual masculino e nas oitavas nas duplas masculinas.
“Cheguei no badminton através da minha professora, que me colocou nos Jogos Escolares de Roraima de 2023. Eu não sabia nenhuma regra, não sabia nem que esporte era e nunca tinha jogado nada parecido”, relembra. Mesmo assim, Mitsurraro estreou com destaque: foi vice-campeão em 2023 no torneio estadual. Em 2024, voltou à competição e ficou em terceiro lugar.
Ele lembra que sua primeira partida foi literalmente um aprendizado dentro de quadra: “Eu cheguei pra jogar e não sabia as regras, não sabia sacar. O juiz me explicou como sacava e joguei. Perdi o primeiro set, mas peguei o jeito e ganhei os outros dois.”
Agora, participando pela primeira vez dos Jogos da Juventude CAIXA Brasília 2025, Mitsurraro chegou à competição nacional sem conseguir treinar e disputou as categorias individual masculina, duplas masculinas e duplas mistas.
“Lá na vila não tem nenhuma quadra. Vim na confiança está dando certo. Passei para as quartas de final no individual e para as oitavas das duplas masculinas”, conta.
O treinador do atleta, Josino Silva, explica que o adolescente vive a 60 quilômetros de distância dos treinamentos, o que dificultou ainda mais a preparação. “Não treinamos antes de vir, porque ele mora distante do local que treinamos. Para nós treinadores também é um desafio, mas ele nos surpreende”, diz.
Josino destaca a novidade da modalidade em Roraima, que foi implantada em 2023 pelo Instituto de Desporto de Roraima: “a gente aprende na faculdade, mas não temos experiência no badminton. Fizemos seleções convidando os alunos e tivemos que vencer também o preconceito”, relata.
Segundo ele, hoje o esporte já conquistou admiradores. “Temos em torno de 200 atletas e criamos uma federação de badminton no estado. Vamos conseguir chegar ao alto nível”, afirma. Sobre Mitsurraro, o técnico não esconde o orgulho: “Ele é um guerreiro. Saiu de onde não havia estrutura e nem conhecimento do esporte. Classificamos ele na etapa municipal, depois regional e, então, para a nacional. Para nós, ele já é um vencedor”, completa.
