De acordo com estudo do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), do Espírito Santo, com base no Censo de 2022 do IBGE, divulgado em novembro do ano passado, a cidade de Guarapari possuiu 22 “Favelas e Comunidades Urbanas”. Esse termo se refere a “territórios populares originados de estratégias utilizadas pela população para atender, geralmente, de forma autônoma e coletiva, às suas necessidades de moradia e usos associados (comércio, serviços, lazer, cultura, entre outros)”.
Entre as 22 comunidades citadas no estudo está Concha D’Ostra, local em que Karolanny Magalhães e sua mãe, a convite de uma tia dela, passaram a viver depois de saírem de Rio das Outras e Campos, no Rio de Janeiro, em busca de condições melhores. O esporte veio para apresentar uma outra realidade para a jovem que andou de avião e se hospedou num hotel pela primeira vez.
“Tive um pouco de medo do avião, mas estou acostumada a lutar contra o medo. A experiência de ficar no hotel, ter o café da manhã, tem sido muito boa. Eu não conhecia ninguém da equipe, fiz muitas amizades. Gosto muito das minhas colegas e elas gostam de mim. É tudo maravilhoso, muito bom estar aqui”.
Karolanny está há apenas oito meses praticando a modalidade, que entrou por acaso no esporte. “No aniversário de uma amiga, conheci o irmão dela e ele disse que ia começar a fazer luta olímpica num projeto perto da minha casa, na Concha. É o projeto da professora Júlia Noleto. Comecei com 13 anos, gostei, fui evoluindo. Na primeira aula, ela passou uns movimentos e eu fazia tudo errado. Já competi em Vitória e fiquei na segunda posição”, contou.
“A professora Júlia Noleto é uma professora nova, mas com muita experiência como atleta, inclusive participou dos Jogos da Juventude. Ela vem desenvolvendo esse trabalho na associação, não só com a Karolanny, mas com vários jovens que fazem parte do projeto e da comunidade. Os Jogos da Juventude, para essa parcela de atletas, representam uma grande conquista e mostram uma outra realidade que, sem eles, não se abriria”, disse o treinador Josemar Pegorette, que lidera a delegação do wrestling nos Jogos da Juventude CAIXA.
A atleta, com pouco tempo de prática do esporte, acabou sendo derrotada na primeira luta por Touche (encostamento no chão), mas a experiência de vida que leva, será fundamental para sua caminhada na vida. E Karol, quer inclusive, que outras meninas como ela possam vivenciar a mesma experiência que ela.
“Para mim, essa experiência vai trazer grandes mudanças e vai me inspirar ainda mais. Quero intensificar meus treinos para competir novamente e viajar. Está sendo muito proveitoso. Assistindo às lutas, observei algumas posições que poderei usar nos próximos campeonatos e posso compartilhar esse conhecimento com as meninas da minha academia. Acho que posso incentivar para que elas se esforcem também e também tenham a oportunidade de conhecer outros lugares”, completou.