Patrimônio do esporte mundial, Rebeca Andrade não foge às suas responsabilidades. Dona de seis medalhas olímpicas e de um carisma inigualável, a ginasta sabe que seus gestos e palavras têm tanto poder quanto a performance durante as principais competições do calendário internacional. Nesta segunda-feira, dia 18, Rebeca passou o dia no Centro de Convenções de João Pessoa compartilhando suas experiências com centenas de jovens atletas que disputam os Jogos da Juventude Caixa João Pessoa 2024. Rebeca conheceu um pouco mais das atividades promovidas pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) para os mais de quatro mil jovens que participam do maior evento esportivo nacional desta categoria em 18 modalidades diferentes.
“É uma honra estar aqui. Eu entendo a importância de ser uma referência. A Daiane dos Santos foi muito isso para mim. Então eu olhava para ela e pensava “Nossa, tomara que eu consiga chegar nesse lugar”. Hoje eu sinto que sou uma referência para esses jovens também”, disse Rebeca. “Acho importante nos Jogos da Juventude a obrigatoriedade de os atletas estarem na escola. Essa união de esporte e estudo é muito importante”, completou a ginasta.
Em João Pessoa, a campeã olímpica assistiu ao treino da ginástica artística; experimentou o Centro de Avaliação e Monitoramento, que avalia testes de aptidão nos atletas; se arriscou no tiro com arco e na escalada; participou de um bate papo com os atletas no palco principal do evento; e, claro, deixou as crianças encantadas ao se dispor a tirar muitas fotos e distribuir abraços e afeto aos montes.
Afinal, além das medalhas, Rebeca tem lugar de fala sobre as dificuldades enfrentadas pelos jovens para trilhar uma carreira de sucesso no esporte. A atleta nasceu em Guarulhos (SP) e começou a treinar aos 4 anos em um projeto social de iniciação ao esporte da prefeitura da cidade. Tinha 10 anos quando se mudou para Curitiba, passando a morar distante da mãe e dos sete irmãos. No ano seguinte, seguiu para o Rio de Janeiro, para treinar no Flamengo. Em 2012, com apenas 13 anos e em seu primeiro campeonato como profissional, venceu o Troféu Brasil superando ginastas como Daniele Hypolito e Jade Barbosa.
“No meu início, o mais difícil foi a questão financeira para coisas fundamentais como transporte para ir ao ginásio, essas coisas. De resto eu tinha tudo, o amor da minha família, o apoio deles, pessoas que acreditavam em mim, que me incentivaram. Graças a Deus eu tive pessoas incríveis no meu caminho que se disponibilizaram em me levar para o ginásio. Saí de casa muito cedo, o que também não é fácil, mas eu sempre tive muito apoio das pessoas que acreditaram em mim antes mesmo de eu ser a Rebeca Andrade.”
Até chegar à aguardada primeira medalha olímpica, Rebeca sofreu com lesões. Foram três cirurgias de LCA (ligamento cruzado anterior) no mesmo joelho direito. Depois disso, Rebeca conquistou a medalha de prata no salto em Tóquio 2020 e foi prata no individual geral naquela edição. Em Paris, ganhou mais quatro medalhas, chegando a seis na carreira, um recorde para o país. Venceu no solo, quando recebeu uma homenagem histórica de Simone Biles, foi prata no salto e no individual geral, e ajudou o Brasil a ganhar uma inédita medalha por equipes, um bronze.
Em sua intensa jornada nos Jogos da Juventude, Rebeca deu muitas dicas, autógrafos, abraços, tirou selfies e, acima de tudo, gerou emoção. Aquela emoção transformadora, capaz de fazer os jovens perceberem que as lendas do esporte são pessoas normais. Rebeca ensina que, mais do que talento, a resiliência e a busca pela jornada do esforço e dos valores olímpicos pode levar à mudança profunda em milhares de histórias pessoais e nos rumos da família, da comunidade, do país.
Uma das crianças que cruzou o caminho de Rebeca em João Pessoa foi a ginasta do Distrito Federal Maria Sofia Alberto, que conseguiu trocar uma ideia e tirar fotos com a campeã olímpica. Maria Sofia começou na ginástica aos 6 anos. Em 2024 consagrou-se vice-campeã brasileira no salto sobre a mesa no Campeonato Brasileiro juvenil.
“Eu fiquei muito feliz que consegui falar com a Rebeca. Foi uma surpresa incrível. Ela é muito cheirosa e gentil. Ela me inspira bastante. Ela é uma pessoa muito resiliente por tudo o que ela passou e ainda conseguiu ser uma campeã olímpica. Eu estou muito, muito, muito feliz”, disse Maria Sofia, de 13 anos, que sonha chegar a uma edição de Jogos Olímpicos como a amiga famosa.
“O meu recado principal para a Maria Sofia e para todos eles é – acreditem! O esporte é muito difícil, mas ele ensina muitas coisas também. Não só para vida esportiva, mas fora do esporte também. A gente aprende a respeitar, a crescer, a ter responsabilidade, a buscar as nossas coisas. Acreditem que tudo vai valer a pena”, disse Rebeca Andrade.