Refugiado venezuelano deixa fome no passado, se encontra no basquete atuando por Roraima nos Jogos da Juventude e enche pais de orgulho

Em busca de uma vida digna, Sebastián Andrés e sua família trocaram Venezuela pelo Brasil e saboreiam oportunidades transformadoras como a do jovem nas quadras de basquete

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Quem vê o rapaz sorridente de 1,95m, 16 anos e pé tamanho 47 jogando basquete, não consegue imaginar que ele é um refugiado cuja família travou uma luta por sobrevivência evidenciada pela troca da Venezuela pelo Brasil. Para Sebastián Andrés, vestir a camisa de Roraima nos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024 é a certeza de que a vida não lhe fechou mais a cara diariamente e que o esporte é, de fato, transformador. O último grande passo do pivô foi ganhar uma bolsa de estudo em um respeitado colégio privado roraimense por ter se destacado nas quadras pelo time de um projeto social.

“Somos uma família de refugiados. A gente tinha muitas necessidades na Venezuela, tinha muita dificuldade de comprar comida e, às vezes, passava fome. Meu pai veio antes para o Brasil e chegou a morar na rua com dois irmãos dele, em Boa Vista, até conseguir um emprego de soldador. Com o tempo, ele foi melhorando de condição, conseguiu alugar uma casinha e, em 2019, nos trouxe da Venezuela: minha mãe, eu e meu irmão. Eu viajar para os Jogos da Juventude encheu os meus pais de orgulho”, afirmou Sebastián.

De acordo com dados do Governo Federal, quase 600 mil venezuelanos imigraram para o Brasil desde 2017, quando se agravaram as crises social, financeira e política por lá. A entrada diária, apenas na fronteira terrestre, no município de Pacaraima, em Roraima, é de até 400 venezuelanos por dia. E, segundo a OIM, agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para migrações, mais de 1.700 venezuelanos vivem em situação de rua em Roraima.

“Vejo muito venezuelanos que estão morando na rua em Boa Vista. Mas espero que eles  também consigam melhorar de vida, aqui no Brasil, porque a economia na Venezuela está muito ruim e não dá pra voltar a viver lá agora”, disse o garoto fã de pabellón criollo, prato típico venezuelano, feito com feijão preto, arroz branco, bife cozido, tomate e banana frita.

Sebastián em ação durante final da Terceira Divisão. Foto: Grazie Batista/COB

Um talento a ser lapidado, Sebastían foi muito importante para que Roraima conquistasse o vice-campeonato na Terceira Divisão do basquete nos Jogos da Juventude e subisse para a Segunda Divisão em 2025. O título ficou com os meninos do Pará.

“Eu comecei a jogar basquete, com 14 anos, depois de um amigo do meu pai falar que eu tinha altura e a chance de um futuro no esporte. Como eu já era mais alto que os meninos da minha idade, me indicaram para jogar em um projeto social. Fui bem, me chamaram para o Instituto Batista com uma bolsa de estudo e deixei a escola pública”, falou ele.

Treinador de Roraima e professor de Sebastián, Marcelo Rivelino Santa Rita comentou sobre a realidade dos refugiados venezuelanos no estado do norte do Brasil e foi só elogios ao seu comandado.

“Existia um preconceito muito grande com os venezuelanos que imigraram para Roraima. Mas isso está melhorando, com as pessoas recebendo oportunidades de crescimento e gente trabalhadora como a família do Sebastián e ele. Tem muito venezuelano em Boa Vista, você encontra todo dia. Vamos seguir tentando ajudar os garotos, com esporte e a chance de uma educação melhor”, exclamou o treinador.

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