Seja pelos k-pops e K-dramas (música pop e dramas coreanos) ou pelos doramas (séries televisivas), a cultura asiática é uma paixão disseminada na geração dos anos 2000. A febre desses produtos orientais se reflete até em esportes pouco populares no Brasil. Foi assistindo à série de televisão sul-coreana “Vinte e Cinco, Vinte e Um” que a alagoana Luiza Marques, 15 anos, quis conhecer a esgrima e chegou aos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024 como atleta.
A série conta a história de Na Hee-do, que faz parte da equipe de esgrima escolar e, mais tarde, após superar adversidades financeiras e melhorar seu rendimento esportivo, realiza o sonho de se tornar membro da Equipe Nacional de Esgrima. Enredo que ainda está fresco na memória da esgrimista Luiza Marques, de Alagoas, mesmo já tendo passado três anos.
Por coincidência, naquele mesmo período, o professor Marcelo Gualberto começou a dar aulas de esgrima na escola onde Luiza estudava. Foi o início de uma relação de amor pela modalidade. Mas a inspiração continua a mesma: “Eu me inspiro na protagonista da série que assisti. Acho que me pareço com ela na força de vontade”, compartilha a atleta de Alagoas, que sonha em disputar os Jogos Olímpicos.
Representante de Minas Gerais nos Jogos da Juventude, Vitória Macedo já praticava esgrima quando se sentiu representada pelas séries e doramas com personagens que praticam a esgrima. Ela começou a fazer aulas da modalidade aos 7 anos por indicação do avô, que também havia sido praticante. “Desde então, eu amo, é o meu esporte dos sonhos”, orgulha-se a esgrimista.
Vitória é também amante dos doramas e percebe de perto a influência das produções asiáticas em atrair mais adeptos. “Esgrima não é um esporte tão popular, como o vôlei no Brasil. Mas muitos países asiáticos são fortes na esgrima, principalmente no sabre, então eles trazem isso também para os doramas. E quando a modalidade aparece em desenhos ou séries de público grande, traz muita visibilidade. Eu tenho duas amigas que começaram a fazer esgrima neste ano por causa de dorama ou série desse tipo”, conta.
A Coreia do Sul soma 19 medalhas em Jogos Olímpicos (7 ouros, 4 pratas e 8 bronzes). Na edição disputada em Paris neste ano, o país ganhou dois ouros, um com Oh Sang-uk no sabre individual e outro no sabre por equipes. Nos Jogos Olímpico Londres 2012, a sul coreana Shin A-Lam foi uma das personagens que marcou aquela edição, após ficar uma hora sentada na pista, sozinha, aguardando uma definição da arbitragem, que acabou não sendo favorável à ela. Minutos depois, Shin A-Lam ainda perdeu a disputa do bronze. Ao menos, ela levou a prata por equipes naquele Jogos.
Série francesa faz sucesso entre esgrimistas
De maneira similar, a curiosidade da piauiense Larissa Bonette, 14 anos, foi despertada após assistir ao desenho “Miraculous: as aventuras de Ladybug”, uma série infantil criada pelo francês Thomas Astruc. Nela, um dos protagonistas é Adrien Agreste, que se transforma no herói Cat Noir, praticante da arte de manusear o florete, o sabre e a espada.
“Eu fiquei com vontade de fazer esgrima quando eu tinha 8 anos e assisti esse desenho, mas não achei nenhum lugar para aprender”, lembra Larissa Bonette. Em 2022, ela se encantou com a demonstração de esgrima realizada por Moisés Carvalho, seu professor de professor de Educação Física e mestre de esgrima. “Mas minha mãe não deixou, porque era muito caro”, conta.
Motivado pela entrada da esgrima nos Jogos da Juventude, Moisés abriu uma seletiva para preencher 10 bolsas gratuitas de aulas da modalidade. Larissa se inscreveu e passou para começar os treinamentos visando a competição que reúne os melhores atletas do país até 17 anos em 18 modalidades olímpicas, organizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Deu certo tão certo, que Larissa anda levou o irmão gêmeo Lucas Bonette. Os dois passaram a treinar com Moisés e disputaram a primeira edição dos Jogos da Juventude em que as competições de espada da esgrima passaram a valer para o quadro de medalhas – a modalidade foi incluída nos Jogos no ano passado, na edição realizada em Ribeirão Preto, apenas como exibição.
Inspiração que vem de filme
Campeão da disputa da espada individual da esgrima dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024, o pernambucano Jhon Xavier foge à febre asiática que atinge sua geração. O pentatleta de 16 anos sempre adorou filmes de batalhas envolvendo espada. “Quando eu era criança, o meu avô tomava conta de mim enquanto minha família ia trabalhar, que antes nós passávamos um pouco de dificuldade. Eu era bastante agitado e, para me acalmar, ele me colocava para assistir filme e sabia que eu gostava. Foi daí que eu me apaixonei”, diz o esgrimista, fã do filme “300”.
Jhon começou no esporte por meio de um projeto esportivo de natação. Depois, a convite de uma professora da escola, migrou para o pentatlo, onde conheceu a esgrima. “Na hora que eu vi a esgrima, pensei que se eu gostava dos filmes de batalhas, certamente eu iria gostar desse esporte”, lembra. Ele estava correto. Após conquistar a medalha de ouro na esgrima individual, disputada no Centro de Convenções de João Pessoa, neste domingo (24), Jhon almeja participar de mais competições da modalidade.
“Vários atletas, técnico e árbitros falaram que eu tenho um potencial bom, sou muito grato por eles terem falado isso”, comemora Jhon. “É um orgulho representar Pernambuco, só tenho a agradecer a comissão técnica e espero que esse ouro faça com que o estado se interesse mais pelo esporte, que chame mais atletas e mostrar que é interessante e que vale a pena o esforço”, completa o campeão pernambucano.
Na espada individual, a campeã foi Laura Correia, de São Paulo. “Eu queria muito esse ouro e corri atrás. Foi muito legal ter contado com torcida, muitas pessoas vieram ver. É muito bom estar nos Jogos da Juventude competindo junto de outros esportes e outros estados”, avaliou Laura.