Divididos entre trabalho rural e judô, acreanos trocam enxadas por quimonos para viverem “dias de reis” nos Jogos da Juventude

Apesar de ainda estar na labuta em plantações, vida do judoca Alexandre Queiroz, de 16 anos, melhora após ele contar sua história no ano passado, e equipe do Acre ganha investimento para se desenvolver e aumentar nos Jogos

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Enxada, sol quente e horas que demoram a passar de muito trabalho pesado fazem parte da realidade de três judocas do Acre que tiveram “dias de reis” ao participarem dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. O garoto Alexandre Queiroz contou sua história, em Ribeirão Preto (SP), durante a edição passada da competição organizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), com atletas de até 17 anos, e ela ecoou nos gabinetes governamentais acreanos. Com maior investimento, os meninos trocaram uma viagem de três dias e meio de ônibus pela primeira experiência de voar de avião na vida. E ganharam melhor estrutura local para se desenvolverem no esporte.

A labuta em plantações de milho e arroz, no município de Epitaciolândia, perto da fronteira com a Bolívia, ainda segue, mas em ritmo menos frenético, pois o judô passou a lhe tomar mais tempo. E a delegação da arte marcial do Acre, que tinha apenas dois membros em 2023, retornou com sete, permitindo até que o estado participasse da disputa por equipes mistas. 

“Ainda não parei de trabalhar na roça, o que faço desde os meus 9 anos de idade, mas minha vida melhorou depois da minha primeira participação em Jogos da Juventude. Terem contado minha história ajudou o nosso judô e viemos de avião neste ano. E eu passei a treinar mais, trabalho um pouco menos e fui reconhecido. A gente fala na equipe que são dias de reis aqui em João Pessoa”, disse o faixa laranja Alexandre, que caiu na primeira rodada da chave individual até 60kg.

Alexandre Queiroz (à esquerda) cumprimenta Samuel Silva, do DF, após derrota. Foto: Gabriel Heusi/COB

Orgulhoso por ajudar a melhorar a vida dos seus pupilos e alavancar o judô no Acre, o professor e técnico Amarildo Ferreira comemorou bastante a evolução, com direito a ajuda de custo para alugar o espaço de treinamentos, bem como para a compra de tatames e equipamentos.

“Graças a Deus, a condição para nossa equipe melhorou muito para este ano. Com a repercussão da nossa participação em Ribeirão, os gestores começaram a olhar com melhores olhos para nosso projeto em Epitaciolândia, de onde são seis dos nossos atletas. Não precisamos viajar três dias e meio de ônibus para competir. A vida dos nossos meninos não é fácil. Eles precisam estudar, treinar e trabalhar com os pais nas plantações e com gado, mas estão muito felizes de defenderam a nossa bandeira do Acre aqui”, comentou o sensei.

João Antônio Thomaz, de 15 anos, era o mais radiante membro da equipe acreana, derrotada pelo Distrito Federal na primeira rodada da chave de equipes mistas. Estreante em Jogos da Juventude, ele tem uma biografia muito parecida com a de Alexandre, a quem ele chama de Supervisor, no judô e no trabalho rural.

“Eu trabalho desde os 11 anos de idade, com arroz, milho e gado. O trabalho é pesado, mas a vida é assim desde sempre para a gente da minha região. Sair de lá para disputar uma competição como os Jogos da Juventude, com três refeições ótimas e em hotel chique é um sonho que nem sei como explicar. Vou ter muita história para contar para os meus pais na volta ao Acre”, disse o adolescente da categoria 50kg.

“Nem todo mundo do time está trabalhando na roça. Nessa nossa equipe são três de sete: o Alexandre, o João e a Awani Ribeiro, mas ela só trabalha nas férias escolares. Espero que eles, um dia, possam apenas se dedicar ao judô, e que a nossa equipe do Acre seja ainda maior e com mais qualidade técnica”, salientou o treinador Amarildo.

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