Dois meses sem treinar não comprometeram as temporadas de Nicolas Marques e Fernanda Silveira, campeões do revezamento misto de águas abertas nos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. Voluntários durante a crise gerada pelas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio deste ano, a dupla gaúcha encontrou forças para voltar às competições e encerrou a temporada com o título do torneio que reúne os melhores atletas do país, de até 17 anos.

“Essa conquista vai para todo Rio Grande do Sul. É um orgulho muito grande representar nosso povo”, vibrou Nicolas, atleta que encerrou o revezamento. Morador de Canoas, uma das cidades mais afetadas pela tragédia das chuvas, o nadador não teve sua casa atingida, mas participou como voluntário das ações solidárias voltadas para as vítimas, junto com Fernanda e outros atletas do Grêmio Náutico União, clube onde atuam e que virou ponto de apoio aos desabrigados.

“A gente recolhia doações, carregava as caixas e ajudava nas ações solidárias. O nosso clube virou abrigo, então todas as atividades de treinamento estavam paradas e o foco era ajudar o máximo possível”, comentou Nicolas. Ele e Fernanda estavam em Itajaí, competindo, quando as fortes chuvas começaram e demoraram para conseguir retornar às suas casas.

“Não conseguimos voltar, os voos foram cancelados e só escutávamos as notícias. Muita gente perdeu a casa e todos estávamos preocupados com as pessoas. A cidade inteira sofreu muito”, lembrou Fernanda, que estava em busca do índice para representar o Brasil no Mundial Júnior de Águas Abertas, poucas semanas depois. “Eu consegui, mas fiquei sem treinar e foi complicado. Com o tempo, as coisas foram se acertando”, disse Fernanda, que fez parte da delegação brasileira no Mundial Júnior, disputado em setembro, na Itália.

Em João Pessoa, Fernanda encerrou sua participação com quatro medalhas (3 ouros e 1 prata), juntando águas abertas e natação, em sua primeira participação nos Jogos da Juventude. “Estou amando essa experiência. Tudo é muito bem feito e ter várias modalidades é incrível, é a Olimpíada do Brasil. Me arrepiei ao entrar no centro de convivência, foi indescritível.”

Com percurso de 3 km, a prova foi dividida em quatro voltas de 750 metros, nadadas de forma intercalada pelos atletas, somando 1500 metros para cada um. Com isso, a estratégia das equipes foi um fator determinante para a definição do pódio.

A delegação vencedora escolheu começar a prova com Fernanda e fechar com Nicolas. O time sul-rio-grandense permaneceu no pelotão da frente em todas as voltas, mantendo-se entre os cinco primeiros e fechando a prova em 37m31s. Para o nadador, foi o desempenho de Fernanda que fez com que ele conseguisse alcançar a liderança em suas nadadas.

“Tenho que agradecer. Foi ela quem abriu o revezamento e fez o trabalho mais forte, nadando com os meninos. Ela segurou bem, deixando o meu trabalho mais fácil”, analisou o atleta, especialista em sprint. Filho de pais nadadores, Nicolas conheceu a modalidade muito cedo e, aos seis anos, realizava suas primeiras travessias.

A nadadora, que iniciou no esporte para tratar questões respiratórias e sobrepeso, é hoje um dos principais nomes das provas de fundo da categoria de base do Brasil. Fã de Viviane Jungblut, medalhista pan-americana de águas abertas, Fernanda tem metas altas no esporte.

“Esse é o meu lugar e não me imagino em outro. Todos os dias eu acordo e vou dormir pensando no esporte e nos Jogos Olímpicos. Busco esses resultados não só para mim, mas para minha família e todos que me apoiam. Sigo firme e, mesmo se eu falhar, sei que vou me levantar”, finalizou a nadadora de 16 anos.

Completaram o pódio as equipes do Maranhão, com Paulo Jesus e Milena Bordalo (37m57s), e de Santa Catarina, com Maryna Fachin e Enzo Aoki (38m48), na terceira colocação.

A prova, que estreou no cronograma dos Jogos da Juventude na edição de Ribeirão Preto 2023, contou com a representação de 20 estados, nesta segunda edição. As disputas de águas abertas aconteceram na Orla de Cabo Branco, no litoral de João Pessoa.

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