O amor pelo esporte é comum entre parceiros no vôlei de praia. Muitas duplas se parecem no gosto, no estilo ou mesmo na aparência. Mas quando os dois atletas são iguaizinhos é de chamar a atenção, ou melhor, de confundir os adversários. Essa é uma carta na manga que os irmãos gêmeos Aquiles e Lorenzo Boner, 17 anos, do Distrito Federal, contaram já ter usado. O que eles não esperavam é encontrar outra dupla de gêmeos nos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. No caso dos irmãos que compõem a dupla da Paraíba, até os nomes do Isaú e do Esaú Alves, 15 anos, se assemelham.
“Se enfrentarmos a outra dupla de gêmeos, vamos entender o que os adversários sentem quando jogam contra a gente”, brinca o paraibano Isaú. Aos risos e com bom humor, ele explica: “Sermos gêmeos é uma sorte, porque pode funcionar para atrapalhar a estratégia dos adversários. Eles podem se confundir e sacar no jogador errado”.
No caso da dupla do DF, um joga com boné e o outro não, facilitando a identificação de cada um. Mas, segundo Aquiles, teve uma partida em que os dois estavam perdendo sem conseguir reagir, quando um deles tirou o boné da cabeça e colocou no outro durante uma das paradas técnicas. Na volta para a quadra, o jogo começou a melhorar para a dupla brasiliense até conseguir a vitória por virada.
Se é verdade ou não, só os gêmeos brasilienses podem revelar. Fato é que o entrosamento de quem se conhece desde que nasceu é uma ferramenta importante usada por eles na areia. “Nós sempre fomos uma dupla, seja jogando esporte coletivo ou individual, éramos apontados como a dupla dos gêmeos sensação. Porque desde pequenos vamos para todos os lugares juntos e, depois que entramos no vôlei de praia, aí que passamos a andar mais juntos mesmo”, conta Aquiles.
Claro que nem tudo são flores. Como bons irmãos, Aquiles e Lorenzo também discutem. “Estamos juntos todos os dias. Acordo e durmo convivendo com ele. Quem tem irmão vai entender. Nós brigamos muito também, mas cinco minutos depois já fizemos as pazes e volta tudo ao normal”, conta Lorenzo.
Entre os gêmeos paraibanos, Esaú se entrega logo: “Eu sou o mais estressado da dupla”. Mas ele também ressalta a amizade existente entre os dois tanto na vida quanto no esporte. “Nos entendemos melhor por sermos irmãos, temos uma intimidade que ajuda demais na rotina dos treinamentos e na hora do jogo”, analisa.
Os outros dois irmãos mais velhos da dupla também entram nessa equação quando o assunto é vôlei de praia. “O meu irmão Isac foi um grande incentivador, falando que nós poderíamos viajar jogando vôlei, porque foi assim que ele conheceu vários lugares e o André, nosso irmão por parte de pai, me ensinou a fazer o toque como o dele, porque os dois jogaram quando eram mais novos também”, conta Isaú.
Vôlei de praia longe da praia
Além de serem gêmeos, as duplas da Paraíba e do Distrito Federal têm em comum o fato de não morarem em cidade de praia. Aquiles e Lorenzo são de Brasília, onde praticam a modalidade em um clube. “A maioria dos meus amigos do esporte jogam vôlei de quadra e brincam na areia. Nós não, somos uns dos poucos que treinamos com foco total no vôlei de praia”, comenta Lorenzo.
Já Isaú e Esaú moram em Logradouro, mas treinam no projeto Caiçara Jovem, na Escola Maria Gertrudes de Carvalho Neves, na cidade vizinha que fica a cerca de 3 km da casa dos meninos. Para a dupla paraibana, as principais dificuldades de morar longe da praia para a prática da modalidade são as condições climáticas. “Na minha cidade, venta pouco. Aqui em João Pessoa deve ventar dez vezes mais do que lá. É difícil se preparar para disputar torneios nas regiões litorâneas”, lamenta Esaú.
Para os Jogos da Juventude, porém, a dupla arrumou um jeito com a tutela do técnico deles, Luís Henrique Monteiro. Jogadores e treinador percorreram os 140 km de Lougrado até João Pessoa nos três fins de semana antes da principal competição multiesportiva do Brasil para jovens de até 17 anos, organizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), para se adaptarem às condições da capital paraibana.
Já a dupla brasiliense não teve essa chance e sentiu a diferença na hora do jogo. “No DF, não chega nada semelhante a esse vento de João Pessoa. Eu brinco que nós jogamos vôlei de areia no DF e vôlei de praia no litoral, porque parecem esportes diferentes”, observa Aquiles. “Nesse vento, a bola muda de direção de um segundo para outro. Mas temos que nos adaptar e estar preparados para isso também” completa o jogador do DF.