Medalhista de prata nos Jogos Olímpicos Pequim 2008, Fábio Luiz Magalhães voltou ao vôlei após quase 10 anos. Depois de se dedicar aos estudos e se formar em Direito e Educação Física, o ex-jogador de vôlei de praia retornou ao esporte, mas de uma forma diferente. No lugar do papel de atleta, o de técnico. Em vez da areia, a quadra. Em substituição aos principais campeonatos mundiais, assumiu o trabalho no início do processo de formação, como treinador da equipe masculina de vôlei do Espírito Santo, que disputa a terceira divisão dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024.
“A minha medalha olímpica nasceu dentro de uma escola”, explica Fábio, que foi vice-campeão nos Jogos Olímpicos ao lado de Márcio Araújo. A dupla também foi campeã mundial em 2005, em Berlim. “A minha conquista olímpica tem vários fatores, mas entre os principais estão dois profissões de Educação Física que acreditaram em mim quando eu tinha 12 anos”, afirma Fábio, que é também professor universitário e dá aulas de vôlei na faculdade.
Natural de Marataízes, município do litoral do Espírito Santo com pouco mais de 40 mil habitantes, Fábio foi convidado a participar do projeto de montar uma seleção de vôlei que representaria o Espírito Santo em campeonatos nacionais, como os Jogos da Juventude, a principal competição multiesportiva do Brasil para jovens de até 17 anos, organizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
“Fizemos uma seletiva boa em todo o estado, construímos um time, treinamos durante um ano para os campeonatos. O trabalho tem que ser feito no dia a dia. Esse trabalho de base é o que eu acredito”, explica o agora treinador de vôlei.
O trabalho começou um ano atrás, para o campeonato municipal, e segue em passos firmes. Sob comando de Fábio, o time da Federação do Espírito Santo foi campeão da segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Seleções sub-18 em 2023. Agora, o objetivo é buscar o acesso para a segunda divisão nos Jogos da Juventude.
“O Espírito Santo tem uma hegemonia muito grande no vôlei de praia e queremos criar essa cultura de ser bom também no vôlei de quadra”, diz Fábio Luiz. O Espírito Santo conta com três medalhistas olímpicos no vôlei de praia: Alison “Mamute” Cerutti (ouro na Rio 2016 e prata em Londres 2012) e Larissa França (bronze em Londres 2012), além de Fábio Luiz (prata em Pequim).
Fábio teve muitas conquistas nas areias, mas foi nas quadras onde tudo começou, chegando a integrar a seleção brasileira de base. Segundo o ex-jogador, a geração que chegou junto dele nas quadras era muito forte, a ponto de fazê-lo migrar para o vôlei de praia aos 20 anos, em 2001. A decisão lhe rendeu todo tipo de títulos, desde campeão brasileiro a campeão mundial, com direito a medalha olímpica. A aposentadoria chegou aos 35, após muitas lesões e cirurgias.
Após um período sabático no esporte em que ficou dedicado aos estudos, Fábio contou com um incentivo extra para voltar ao vôlei. O filho João Vítor Magalhães é o levantador do time do Espírito Santo nos Jogos da Juventude, em João Pessoa. “Eu tentei me afastar, porque desde os meus 12 anos eu respiro vôlei. Mas os filhos vêm me puxando, os amigos também. Depois, vendo o sonho dessas crianças, penso que eu posso ajudar a concretizá-los”, conta.
Apesar de ser filho de medalhista olímpico do vôlei de praia, João Vítor treina vôlei apenas há um ano – até o ano passado, o esporte dele era a natação, fruto do incentivo da mãe. Mesmo com pouco tempo de quadra, o jovem jogador de 15 anos já fala com muita paixão da modalidade. A irmã Lara, de 12 anos e alta para a idade, também já mostra que herdou a habilidade do pai para um dos esportes mais populares do Brasil.
“Ele nunca vai me colocar na frente dos outros por eu ser o filho dele. Até por isso, eu prefiro chamar ele de Fábio quando estamos com o time. Mas é muito bom poder contar com ele em um momento tão especial, viajando para jogar uma competição nacional, ter contato com atletas de outros estados. E sempre vou ter um grande respeito, que, além de meu treinador, ele é meu pai”, comenta João Vítor.
A volta de Fábio ao vôlei, porém, foi no cenário onde toda essa paixão começou: “Eu sempre fui um apaixonado pela quadra e já vivenciei muito a praia. Agora, eu queria algo diferente”. Nem sempre a tarefa de estar fora do jogo é fácil. “Estar dentro de quadra no vôlei era a minha paixão, agora é estar fora. Mas, claro, tem hora que eu tenho vontade de atacar a bola, porque ela vem tão boa, que dá vontade”, confessa Fábio.
Ainda assim, no papel de treinador, ele mantém um temperamento calmo, sem exaltações, mesmo nos momentos mais difíceis do jogo. Sorte da turma que tem o privilégio de contar com um técnico medalhista olímpico. “Querendo ou não, tê-lo como treinador aumenta a pressão, temos um pouco mais de responsabilidade dentro de quadra, mas conseguimos levar de uma maneira bem tranquila. Ele é um ótimo treinador, dentro e fora de quadra, nos ajuda bastante, é um ótimo amigo e já contou muita história de quando era atleta”, conta o central João Vítor Soneghet.
Eu falo com eles direto. A minha medalha olímpica eu construí com muito trabalho, treinando no dia a dia, com acertos e erros. Eu não vejo outro caminho para o sucesso e passo para eles essa experiência. Claro que também tem muitas histórias, os sacrifícios que fazem parte da vida de um atleta, mas a satisfação de saber que tudo vale a pena também. No fim, eu aprendo muito mais com eles e me sinto motivado por pegar uma geração de meninos que confiam em mim, que gostam de trabalhar e ver que estamos em um bom caminho”, completa Fábio.