Únicos recordes do atletismo nos Jogos da Juventude foram de Davi, filho de atletas olímpicos, e Francisco, talento de Marcelândia

Um bateu a melhor marca do salto triplo após oito anos; o outro quebrou um jejum de uma década no lançamento de dardo

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Mais de 800 participantes de até 17 anos disputaram o atletismo nos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. Entre muitos talentos, dois se sobressaíram batendo o recorde da competição. Ambos do Mato Grosso, superando marcas que já eram do próprio estado. No lançamento do dardo, Francisco Paulo Petri, 17 anos, acabou com um jejum de dez anos. Ele atingiu 74,66m, superando o recorde de Pedro Luiz Prado Barros, com 71,04m. No salto triplo, Davi Souza de Lima, 16 anos, cravou 15,55m, desbancando a distância que durava oito anos – e pertencia a Lázaro Júlio da Silva, com 15,41. 

Davi tem no sangue a genética do atletismo. É filho de Vicente Lenilson de Lima, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos Sydney 2000 e de bronze nos Jogos Pequim 2008, ambos no revezamento 4x100m. Foi tentando seguir os passos do pai que Davi começou no atletismo, ainda como velocista nas categorias sub-14. 

Mas a herança genética do garoto de Cuiabá também está presente pelo lado materno. A mãe dele é Maria Aparecida de Souza, representante do Brasil no salto triplo nos Jogos Olímpicos Atlanta 1996. “Eu sempre achei o salto triplo uma prova muito bonita. Um dia eu estava no treino e perguntei para minha mãe se eu podia fazer um teste. Ela deixou, eu fiz um salto bom e ela falou para continuarmos treinando que eu levava jeito”, conta Davi.

Davi Souza de Lima foi campeão do salto triplo do atletismo dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. Foto: Alexandre Loureiro/COB

Nascido em 2008, Davi não teve oportunidade de testemunhar a mãe em ação como atleta. “Eu assisto direto ao revezamento 4×100 de Sidney, que o Brasil foi medalha de prata. Já vi o salto da minha mãe nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, na internet. Vejo também outros atletas brasileiros e mundiais, seja da atualidade ou mais antigos. Servem como uma inspiração para mim”, diz.

O salto triplo foi uma das provas mais emocionantes do atletismo nesta edição dos Jogos da Juventude. O amazonense Benjamim Oliveira liderava a disputa e, na última rodada, elevou a marca, ao saltar 15,51, quebrando o recorde da competição de 15,41, que durava desde 2016. Mas ainda restava uma tentativa para o mato-grossense Davi Souza de Lima, que até então estava na terceira colocação. O voo de Davi no último salto lembrava cena de filme. A marca de 15,55 lhe rendeu, além da medalha de ouro, o novo recorde sub-18 da prova.

Campeão do salto triplo, Davi Souza de Lima bateu recorde da prova no atletismo dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. Foto: Alexandre Loureiro/COB

“A torcida estava muito agitada na última rodada de saltos. Mas eu só lembrava do Duda, que foi campeão mundial duas vezes no último salto. Acabou que eu também consegui fazer uma marca muito boa no último salto”, conta Davi. O matogrossense se referiu ao Mauro Vinícius Duda da Silva, o Duda, primeiro brasileiro bicampeão do mundo no salto triplo em pista coberta, após atingir a marca de 8,28m na competição disputada em Sopot, na Polônia, em 2014.

No mês passado, Davi saiu insatisfeito com sua performance na Gymnasiade de Bahrein, evento multiesportivo escolar de escala mundial. “Eu não saltei muito bem e saí de lá pensando que um dia eu conseguiria fazer uma marca boa”, revela Davi. Nos Jogos da Juventude, em João Pessoa, ele estava garantindo a medalha de bronze com um salto de 15,10m. Mas o desfecho surpreendeu até ele próprio. “Saiu um resultado muito maior do que eu esperava, não tem nem o que falar, estou muito feliz”, comemora.

Filho dos atletas olímpicos Vicente Lenilson e Maria Aparecida de Souza, Davi Souza de Lima é campeão do salto triplo dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. Foto: Alexandre Loureiro/COB

Diamante bruto do lançamento de dardo

No lançamento do dardo masculino, Francisco Paulo Petri bateu o recorde da competição, que durava desde 2014, logo na qualificação. “Fiquei surpreso que foi já no primeiro lançamento. Mas na hora eu senti que a técnica foi quase perfeita”, comemora o atleta da Associação Marcelândiense de Atletismo. Na final, a marca de 72,93m foi suficiente para lhe garantir a medalha de ouro nos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024.

Morador de Marcelândia, município com pouco mais de 10 mil habitantes no Mato Grosso, Francisco deu uma chance ao atletismo após quebrar o braço no futebol. Foi a convite de um amigo, há apenas dois anos, que ele conheceu o lançamento de dardo e ouviu do professor que tinha potencial para a modalidade.

Ouro no lançamento do dardo, Francisco Paulo Petri ainda bateu o recorde da prova nos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. Foto: Alexandre Loureiro/COB

Em pouco tempo, o mato-grossense de 17 anos foi campeão brasileiro de clubes sub-18, que garantiu vaga para disputar o Campeonato Sul-Americano de Atletismo Sub-18 em San Luis, na Argentina, de 6 a 8 de dezembro. Agora, com mais um título nos Jogos da Juventude, que ainda teve direito a recorde quebrado, a confiança estará no alto para a competição continental.

“Eu já imaginava que poderia bater o recorde dos Jogos da Juventude, pelos treinos que eu vinha fazendo, debaixo de chuva ou de sol. Espero continuar quebrando várias marcas”, almeja Francisco. A rotina de treinamento é cansativa, mas é compatível com o sonho de continuar se desenvolvendo enquanto atleta até ter condições de disputar os Jogos Olímpicos.

Francisco Paulo Petri, do Mato Grosso, em ação na conquista da medalha de ouro no lançamento do dardo masculino dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. Foto: Alexandre Loureiro/COB

O Francisco é um diamante bruto. Ele é introspectivo ainda, mora em uma cidade longe dos grandes centros do Mato Grosso, mas não tem a dimensão do potencial que ele tem”, comenta Wlamir Motta Campos, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). 

“Eu perguntei para o Francisco depois da prova com qual dardo que ele treinava. Ele respondeu que era um dardo cinza com a ponta fina. Perguntei para quantos metros e qual a marca; e ele respondeu que não sabia. É um talento natural. Com certeza vai entrar no radar da CBAt e da área de desenvolvimento do COB, porque tem um potencial gigantesco e, principalmente, uma humildade que faz muita diferença”, comenta Wlamir Motta Campos.

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